sexta-feira, 24 de julho de 2009

CAPÍTULO 3 - A PRIMEIRA NOITE

Cris acordou assim que o sol se pôs,como gostava de fazer,às vezes acordava tão "cedo" que conseguia ver o finalzinho do Crepúsculo,e adorava a imagem do céu avermelhado.

Tinha 2 prioridades em mente,encontrar um refúgio e conhecer a cidadezinha.

Não iria se alimentar hoje seria muito arriscado sem conhecer as manhas do lugar.Graças a Deus conseguia ficar por uns dias sem se alimentar,a sede o corroendo por dentro,mas mesmo assim controlada.

Vestiu-se para explorar cidade,quando ia passando pela recepção,notou que onde estivera o senhor na noite anterior,havia uma senhor de uns50 anos,fazendo crochê.

Usou um de seus truques para que passasse pela velha senhora sem chamar atenção;ela sem lembraria de alguém ter passado por ela e lhe desejado uma boa noite,mas não saberia sequer dizer se havia sido um homem ou uma mulher.Muito cômodo.

Chegou a seu carro,viu que a padaria estava aberta e comprou uns chicletes,apenas para ser simpático com a balconista,afinal poderia ser um investimento futuro.

Circulou um pouco pelo centro da cidade e quando passou diante de um banco,resolveu dar uma olhada na sua conta e ver se a maldita Matriarca não lhe havia deixado sem dinheiro.

Com um suspiro de alívio,viu que estava tudo intacto,ainda havia dinheiro suficiente para que vivesse com todo conforto durante 1 século ou mais.

Notou um movimento maior de carros e resolveu ir ver no que dava.Seguiu por uma avenida,virou a esquerda e saiu numa rua transversal,cheia de bares e com uma boate,chamada Hero,que lhe pareceu bastante razoável para aquele fim de mundo.

Conseguiu encontrar um estacionamento no próximo quarteirão e voltou a pé.Entrou no primeiro bar,pediu uma cerveja e puxou papo com uma loirinha bonita que olhava embasbacada para a fila da boate.

-Oi.Vai entrar mais tarde?

Ela parecia não tê-lo visto e virou-se rapidamente,dando de cara com a bela figura de Cris e abrindo um sorriso sem graça.

-Ahh,não,hoje não.É o dia da inauguração,e só entra quem tem convite...

-Hum,interessante.E qual é o seu nome?

-É Danielle e o seu?

-Cristiano,prazer.

E deram os habituais 3 beijinhos no rosto.

-E quem cometeu o sacrilégio de não te dar um convite Danielle? A inauguração da boate certamente perde muito brilho sem a presença da mulher mais bonita da cidade.

Ela abriu um sorriso tão grande que ele percebeu que ela já estava conquistada.Bem fácil.Pena que não se alimentaria hoje,ela parecia bem suculenta.

-Hahaha,até parece que eu sou a mulher mais bonita da cidade.E só figurão e filho de figurão recebeu convite pra hoje.

-E quem é o dono da festa?

-Roberto Ragazzi,um dos figurões,praticamente dono da metade da cidade.tem tanta grana,que eu nem sei porque abriu uma boate.deve ser como dizem,dinheiro nunca é o bastante.

-Dinheiro nunca é o bastante.Humm...verdade.Mas enfim,toma uma cerveja comigo?

-Claro,vou só pegar minha bolsa na mesa das minhas amigas.

Foi até uma mesa com umas 4 meninas,falou algo,todas olharam para Cris,riram quase disfarçadamente,ela pegou a bolsa e foi para a mesa que Cris tinha pegado.

A cerveja chegou e os dois começaram a conversar sobre qualquer coisa.Danielle estava encantada,Cris parecia se interessar por qualquer assunto que ela começava,e por sua vez Cris até que estava gostando bastante da companhia.

A certa altura,Cris decidiu que queria entrar na boate.

-Quer entrar Dani?

-Na boate?

-Claro.

-Mas como? A gente não tem ingresso.

-Isso não é problema.Quer ir comigo?

-Quero!

E agora o sorriso dela iluminava a noite como os raios brilhantes da lua.

-Então vamos!

Pagou a conta e atravessaram a rua,de mãos dadas,e Cris puxou uma espantada Danielle direto para o começo da fila,sem se importar com os olhares atravessados do pessoal que já esperava há um bom tempo.

Havia um segurança de terno preto,com pinta de segurança de quermesse.

"Vai ser fácil demais - pensou Cris - droga,eu queria tanto que fosse um pouquinho mais difícil pra aumentar a graça!"

-E ai amigo! Beleza?

-Tudo bem.

-Bem,é claro que eu não vou ficar nessa fila enorme com a minha namorada,então - E agora Cris olhava fixamente nos olhos do humano - será que você pode deixar a gente passar?

-Claro senhor.

E para espanto da fila,e espanto maior de Danielle,o segurança saiu da frente da porta e deixou que os dois entrassem.Quando estavam chegando no salão.Cris começou a ouvir reclamações lá fora,todas prontamente ignoradas pelo segurança.

-Cara,como você fez isso?? Pode falar,você é algum ricaço da região que eu não conheço né?

-Não,rs,claro que não.Eu não sou da região,nem ricaço,eu morava em São Paulo,e trabalhava no negócio do meu pai.

-Ahh,sei...Mas tudo bem,não importa,quer dançar?

-Claro,mas não aqui,vamos subir pra área VIP.

-Claro,claro...rsrs,vamos sim,e eu aposto que você vai pedir pra subir e o segurança vai deixar não é?

-É sim.Haha.Vamos?

E foi exatamente como Danielle havia falado,Cris simplesmente pediu ao segurança para deixá-los subir e ele prontamente atendeu.Com certeza Cris deveria ser algum ricaço da região que ela não conhecia.

Dançaram e beberam (lógicamente Cris apenas fingia beber) durante umas 2 horas,até que Cris viu que havia chegado um homem que parecia ser bem importante.

-Ei Dani,quem é aquele cara que chegou agora parecendo ser o rei do mundo.

Ela olhou rapidamente e sorriu.

-Ele? É o rei do mundo.Roberto Ragazzi,dono da boate,do quarteirão e de mais metade da cidade.

-Hum,interessante.Vamos lá conhecê-lo.

-O que?Cris,você é louco mesmo.Acha que ele simplesmente vai deixar a gente chegar perto e ficar bebendo e papeando com ele?

-Vai sim ora.Afinal nós dois somos as pessoas mais interessantes dessa boate!Vamos!

-Cris,você é mesmo louco,mas vamos lá então!

Cris se adiantou rapidamente;na verdade Dani nem reparou que ele havia saído do lado dela até que o viu se aproximar de Roberto.

-Roberto Ragazzi? Muito prazer,sou Cristiano Souza,e queria parabenizá-lo pela bela casa que você está inaugurando hoje!

Só quando Cris completou a frase é que o segurança se deu conta de que havia alguém importunando o patrão;e como o sujeitinho foi rápido.

O segurança chegou por trás de Cris e já ia meter a mão em seu pescoço e tirá-lo dali,quando Roberto virou-se para ele e disse que estava tudo bem,que eles iriam conversar.

O "encanto" de Cris já surtira efeito.

Nesse momento uma Dani extremamente sem graça se aproxima e rapidamente Cris a puxa e abraça.

-Danielle...humm...qual o seu sobrenome mesmo?

-Duarte.

-Danielle Duarte,esse é Roberto Ragazzi,nosso anfitrião.Roberto,Danielle é uma menina adorável não? eu estava dizendo a ela há pouco como ela é a mulher mais bonita da boate.

-Ah sim,muito prazer,e realmente Danielle,hoje ainda não vi uma mulher mais bonita por aqui.

-Muito obrigada.A vocês dois.Agora parem antes que me deixem mais sem graça ainda.

-Então Cristiano,você não é daqui.O que lhe traz a essas bandas?

-Bem,resolvi mudar de ares,São Paulo já deu pra mim,quero respirar um pouco de ar limpo e saber os nomes dos meus vizinhos da rua...rs.

-Verdade,eu sempre detestei cidade grande,nasci,fui criado e prosperei aqui,e espero morrer aqui,daqui há muitos anos claro.

-Claro,ainda viveremos séculos!Um brinde a isso.

Nesse momento se aproxima um empregado da boate e sussurra algo no ouvido de Roberto.

-Merda Carlos!E agora?

-Sinceramente não sei o que fazer patrão,nós tentamos entrar em contato com ele de todo jeito,mas não conseguimos.

O homem estava apavorado.

-Posso ajudar em alguma coisa Roberto?

-Adivinha Cristiano.O DJ não apareceu,e não conseguimos encontrá-lo em parte alguma.

Ali Cristiano viu a luz.

-Pois pode parar com o desespero homem!Eu sou DJ há alguns anos,amador claro,mas segundo as pessoas que me ouviram,muito bom!

-Fala sério!Verdade?

-Verdade.

E Cris olhou direto nos olhos dele.

-E essa noite,vou tocar na sua boate,e salvar essa inauguração do fracasso.

-Sério?Ótimo!Carlos,anuncie que em 5 minutos,vai tocar o DJ Cris,extremamente badalado na cena paulistana.

-Claro senhor,agora mesmo.

O homem parecia ter se livrado de um fardo enorme.

-Venha,vou lhe mostrar sua mesa.

A cabine do DJ ficava uns 3 metros acima da pista,numa bolha plástica,que Cris achou sensacional.Podia sentir todo o calor dos humanos dali.

Quando seu nome foi anunciado,convidou Danielle a ficar ao seu lado na cabine e soltou o som.Imediatamente a pista se encheu de gritos entusiasmados,pois Cris não mentira sobre sua habilidade com as pick-ups.

Os mortais pareciam em êxtase com seus malabarismos musicais,inclusive Danielle.

Aquela primeira noite seria lembrada por muito tempo,e Cris estava satisfeito.

Afinal a noite lhe pertencia,se não mais em São Paulo,agora na pequena Santo Cristo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

CAPÍTULO 2 - CHEGADA À SANTO CRISTO


A cabeça de Cris estava a mil.


Para onde ele iria?

O que faria agora?

Finalmente conseguiu se acalmar um pouco.A primeira coisa a fazer era sair logo da estrada,talvez encontrar um motel barato e passar a noite no seu banheiro imundo,amanhã ele pensaria melhor no que fazer.

Rodou por mais alguns quilômetros e finalmente viu um motel a esquerda,virou o carro naquela direção,mas de repente deu uma guinada com o carro de volta pra pista.

Não - pensou - não vou ficar nem mais um segundo aqui,vou para o mais longe que eu puder dessa maldita cidade e dessa maldita Corte.

E dirigiu apenas,sem prestar atenção ao caminho,só querendo chegar o mais distante possível dos seus pesadelos.

Quando deu por si,faltava cerca de uma hora e meia para o amanhecer,e ele não fazia idéia de onde estava.Todo o desespero de algumas horas atrás retornou.

E agora?

Acelerou o carro,estava há uns 140 por hora,torcendo pra não ter o azar supremo de esbarrar com alguma patrulha,o que seria fichinha depois de toda a merda daquela noite.

Uns 20 minutos depois passou por uma placa que dizia que ele estava entrando no município de Santo Cristo,Minas Gerais.

Depois de dirigir centenas de quilômetros e a uma hora do pôr-do-sol,aquilo poderia ser o paraíso.

Era uma típica cidade do interior,as ruas estavam vazias àquela hora,e Cris rodou desesperadamente pela cidade em busca de um hotel,ou qualquer lugar em que pudesse passar a noite.

Parecia que a sorte voltava a lhe sorrir,porque em 15 minutos conseguiu achar um hotelzinho no andar superior de uma sapataria,parou o carro no meio fio,contou até 10 para se acalmar,e subiu depressa os 12 degraus até a pequena recepção.

A escada terminava numa saleta relativamente limpa e arrumada,o chão coberto com um carpete de um verde muito esquisito,as paredes pintadas de um marrom claro uniforme com uma quadro de paisagem rural em cada um dos lados. Ao fundo um corredor onde se viam pelo menos 3 portas de cada lado,e à direita do corredor,um balcão de madeira envernizada com um senhor de uns 50 anos cochilando apoiado nele.

Cris deu um tapa na madeira e o senhor acordou sobressaltado,deu uma olhada no relógio do pulso - quase 6 da manhã - de onde diabos aquele rapaz estava vindo?

-São 60 reais a diária.Quarto de solteiro,almoço e jantar incluídos.

Cris tira um cartão de crédito da carteira.

-Tira três diárias.

-Claro,e preciso da sua identidade pra registro.

Tirou o documento da carteira,deu ao homem e encostou-se no balcão.

-Tudo certo,é só assinar aqui.

-Pronto,qual é o meu quarto?

-O número 2,primeira porta à esquerda.

-Obrigado.

Cris abriu a porta e olhou em volta,o quarto era pequeno,4x5 metros no máximo,tinha uma cama encostada na parede ao lado da porta,uma janela logo a frente,e uma porta na parede á direita,que Cris deduziu ser o banheiro.Seria precisamente no banheiro que ele passaria sua primeira noite fora de casa.Ou pensando bem,seria sua primeira noite na sua nova casa.

_____


Assim que Cris entrou no quarto,o senhor,Antônio Batista Pereira,Caçador aposentado,ficou branco como cera e seu cérebro funcionava em ritmo frenético.

Ele é um deles - pensou - um dos malditos sanguessugas.

Retirou seu velho crucifixo,abençoado pelo próprio João Paulo II,pegou um isqueiro,uma lata de spray de laquê,a chave sobressalente do quarto numero 2, e preparou-se para livrar o mundo de mais uma das crias de Satanás.

Abriu a porta bem devagar,provavelmente o sanguessuga estaria dormindo no banheiro sem janelas,onde estaria bem abrigado do sol.

Quando abriu a porta e entrou,tomou um dos maiores sustos de sua vida.

Cris jazia deitado na cama,respirando profundamente,roncando até,só de cuecas.Um leve toque em seu braço,e seu Antônio pode sentir o calor da pele e a respiração pesada,indicando que o rapaz devia estar mesmo muito cansado.

-O que o cansaço e as vistas cansadas não fazem com a gente hein? - murmurou para si mesmo enquanto saía do quarto.

-Quase que torro um rapaz inocente!

E voltou a cochilar no balcão.

_____


Assim que ouviu o barulho da porta se fechando,Cris abriu os olhos.

-Que droga! - pensou- Um caçador aposentado logo no único lugar que achei pra dormir!

Ainda bem que tivera a iniciativa de dar uma sondada na cabeça do cara enquanto ele lhe registrava,e percebera as intenções do sujeito.Pelo menos por essa noite estaria seguro.

Pegou o travesseiro,o lençol e foi para o banheiro.

Era só a sua primeira noite na pequena Santo Cristo.

CAPÍTULO 1 - EXÍLIO


Batidas fortes na porta.


-Porra! Tá ocupado!

Batidas mais fortes.Quase derrubaram a porta.

O homem na cama se agita,ele está furioso,o cara que está do outro lado da porta vai se machucar...

A loira espetacular do seu lado na cama se agitou,percebeu que a situação podia ficar feia,Cris era muito esquentado,ainda mais se atrapalhassem suas "brincadeirinhas" com ela.

-Deixa que eu vejo quem é Cris,fica na cama.

-Porra nenhuma.Fica aqui que eu resolvo.

Denise tentou segurar o braço dele,mas parecia estranhamente fraca;ele se desvencilhou facilmente,era estranho,quando estava na cama com Cris,depois de transarem selvagemente,ela sempre sentia suas forças esgotadas.Tinha que ficar um bom tempo deitada,até conseguir se levantar para tomar um banho.

Cris se levantou e foi até a porta,mas quando ia tocar na maçaneta a porta se abriu,jogando-o no chão,e um homem enorme entrou,seguido por um outro um pouco menor,mas com uma expressão de gelar os ossos.Ambos vestiam ternos escuros,e empunhavam pistolas,porém sem realmente apontá-las para ninguém.
Perto de Cristiano,que tinha cerca de 1,75,e o corpo bastante esguio,os dois se tornavam gigantes ameaçadores

Fecharam a porta novamente e ajudaram Cris a se levantar.Agora ele estava realmente assustado,porque conhecia os dois.Tentou não demonstrar medo na voz:

-Douglas! Quanta honra! O que traz o Algoz da cidade ao quarto da bela senhorita Denise?

-Você devia saber Cristiano,ou achou que a Matriarca nunca ia descobrir?

Se ainda fosse vivo,Cristiano teria gelado naquele momento.

-Então eu não posso mais me divertir? O que a Matriarca tem com isso?

Do fundo da garganta do homem mais baixo brotou um rosnado.

-Por acaso você tá vendo algum idiota aqui?

Pelo tom da voz do Algoz,Cris achou melhor parar com as gracinhas.

-Muito bem Douglas! Quais seriam suas intenções aqui?

-Ela quer te ver...agora.

O homem mais baixo se ajeitou e suas mãos sumiram dentro do terno negro que ele usava.

Diante disso,não havia como recusar...

_____

Era um dos maiores arranha-céus da cidade,bem no centro comercial de São Paulo.

Claro que a Matriarca o havia escolhido para seu "escritório",na verdade Cris suspeitava que ela havia usado suas conexões nas construtoras da cidade e mexido uns pauzinhos para que o edifício fosse construído. Com certeza ela deve ter influenciado até mesmo na escolha do nome: Belle Tower.

Enfim...

Enquanto passava pela portaria e por cerca de uma dezena de câmeras pensava em Denise,que havia ficado no apartamento completamente confusa com toda história de Matriarca e Algoz. Será que eles a matariam? Ela não tinha nada a ver com aquilo,mas se eles achassem que ela ouviu demais,não hesitariam um segundo em matá-la.

Entraram no elevador e Douglas apertou o botão da cobertura. Dentro do elevador havia duas câmeras,em lados opostos,como se os 2 metros quadrados do elevador fossem amplos demais pra apenas uma câmera de vigilância.

-Paranóia...

Douglas se virou rápido.

-O que disse?

-Nada. Só pensando alto.

-Humm.

O elevador finalmente parou,e quando as portas abriram eles se viram em uma sala de reuniões extremamente luxuosa.Era do tamanho de um apartamento de classe média,e ocupava todo o lado direito do andar;cortinas pesadas cobriam 3 paredes,e uma enorme mesa figurava imponente no centro da sala.

No extremo da mesa,sentada numa cadeira alta,de encosto reto,havia uma mulher linda,rosto pálido,cabelos loiros,olhos castanho claro e lábios carnudos,uma mulher que levaria muitos homens à perdição.

-Cristiano Souza.

E sua voz parecia acariciar os ouvidos e enfiar uma faca no cérebro ao mesmo tempo.

Mas Cristiano não pareceu muito intimidado.

-Annabelle Russeau. A que devo a honra de ser convocado pela Matriarca?

-Sem joguinhos por favor Cristiano,você sabe muito bem porque está aqui,e sabe muito bem que se continuar essa brincadeira tola,vai se arrepender,e muito.

-Tudo bem Annabelle,se quer deixar a cortesia de lado,vou ser direto. Que motivos o Algoz e seu ajudante teriam pra me incomodar a essa hora da noite?

-Que motivos? Por favor! Pelo que vejo você nunca para de fazer joguinhos não? Pois bem,irei direto ao ponto. Você estava presente na reunião há 8 meses,quando foi dito claramente que eu proibi a caça na zona de meretrício,devido ao alto número de Membros que contraíram doenças desagradáveis,se alimentando daquelas mulheres sujas. E qual não é minha surpresa quando eu descubro que você continua usando aquela prostituta?

-Eu continuo "usando" aquela prostituta como você diz,mas para fins meramente recreativos. Não me alimento dela há 8 meses,assim como você ordenou.

A mulher se levantou.Seu vestido,longo e negro como a noite,esvoaçou com o andar rápido da Matriarca de São Paulo. Em menos de 2 segundos,Annabelle estava diante de Cris,seus olhos faiscando,e Cris viu neles promessas de tortura e danação.Resolveu que era hora de jogar com todas as suas cartas.Mas antes deu 1 passo para trás.

-Tudo bem,vamos ser francos Annabelle. Eu tenho me alimentado da Denise,ambos sabemos que eu nunca tive um grande rebanho à minha disposição,simplesmente por escolha pessoal,não por falta de opção claro.E ambos também sabemos que você não fará nada,pelo fato de que não deseja aborrecer meu "pai" dorminhoco e meus "irmãos" mais velhos,que estão bastante acordados.

Pronto.Ele jogara todas as suas cartas.Agora era pagar pra ver até onde Annabelle chegaria.Afinal ele era cria do antigo Patriarca da cidade,Luís Aragón,vampiro de altíssimo renome,que havia sucumbido ao Sono 5 anos antes,apenas 2 anos após transformar Cris.Annabelle,através de alianças e manipulação,conseguiu tomar para si o cargo de Matriara,que toda a comunidade vampírica já dava como certo ser ocupado por Sebastião Rodrigues Maia,que acabou ficando como Conselheiro-chefe.
E ainda havia Lúcio Moraes seu "irmão do meio",um patrono das artes bastante influente.Para seu espanto,Annabelle nem se alterou,e seu olhar se tornou mais aterrorizante.

-Hahaha,pelo que você me toma Cristiano Souza? Alguma imbecil? Uma tola inexperiente que se tornou Matriarca da maior cidade do país por pura sorte? Enquanto você sonhava que podia me chantagear,eu já estava 5 passos à sua frente,e lamento lhe dizer que sua suposta imunidade foi retirada essa noite,barganhada com seus próprios irmãos,a troco de pequenas migalhas,que pra eles tem mais valor do que o irmãozinho.

Pronto.

Jogara e perdera a aposta.A astúcia da Matriarca e a cobiça de seus irmãos o condenaram.Annabelle havia proibido a caça na zona de meretrício,sob pena de exílio,e a proteção que ele achava que tinha,motivo que o fazia desobedecer a ordem displicentemente não existia mais.Era o fim.Seria exilado.

Como se lendo seus pensamentos,a voz doce e cortante de Annabelle lhe trouxe de volta à realidade.

-Douglas o acompanhará até os limites da cidade.

Quando ia começar a protestar,sentiu o cano da arma do Algoz pressionar com força sua nuca,e decidiu ficar quieto.

Os dois saíram do prédio e entraram num gol preto de 2 portas,que parecia ter pelo menos uns 5 anos de uso,e que para Cristiano,era como sucata.Douglas dirigiu em direção à saída da cidade,e cada vez que Cristiano abria a boca para tentar dizer alguma coisa,um olhar do Algoz para fazê-lo se calar.

Assim que chegaram numa rodovia estadual,Douglas parou o carro no acostamento,e saiu do carro,Cristiano apenas acompanhou com o olhar enquanto um sedã preto encostava e o Algoz começava a abrir a porta do passageiro.

-Você tem 2 minutos pra sumir da minha vista Cristiano,ou vou matá-lo.Ordens da Matriarca claro.
E ah,nem pense em voltar aqui.

Cris pulou para o banco do motorista,deu a partida e deslizou com o carro pela estrada escura.

Ele tinha nove horas para encontrar um novo lar e um novo refúgio num lugar seguro.

Nove horas até o nascer do sol.